Nunca fui num velório tão lindo.
Perdi uma pessoa muito especial na minha vida, uma mulher que eu amo e foi minha segunda mãe. Se hoje sou bem resolvido com a minha sexualidade, devo isso a ela. Se hoje sei o que é formar e preservar um círculo de amizades, devo isso a ela. Uma pessoa especial, linda, sempre sorrindo e querida por todos, sem exceção.
Ela se foi segurando a mão da filha. Após isso, de madrugada, fui ao seu velório em sua casa. Amigos e parentes reunidos, eu fui uma das crianças que estava lá. Pelo menos foi assim que me senti e que todos, do nosso grupo, se sentiram: como se estivéssemos voltado ao colégio e ido, pela primeira vez, na casa da Tia Alice, mãe da nossa amiga e que, quem diria?, se tornaria minha amiga que tanto amei.
Ocorreu do jeito que ela queria: pessoas queridas em volta, aquele Led Zeppelin tocando ao fundo baixinho, todos com suas bebidas em mãos (ela cria que numa situação ruim, estar com os amigos e uma biritinha na mão ajudava, mas não passavam, as aflições). Parecia que a qualquer momento eu iria ouvir sua gargalhada da cozinha ou que ela sentaria comigo no sofá e falaria "Então, Billy, me conta as fofocas" enquanto segurava minha mão.
É impossível não deixar caírem lágrimas enquanto me lembro de tudo isso, como também foi impossível quando vi seu caixão cheio de fotos lindas, de momentos maravilhosos, da vida dessa grande mulher.
Estou com saudade, Tia Alice. Se você viu seu velório, então deve estar satisfeita. Foi como se você estivesse com a gente...
No hospital você me mandou um último beijo e eu não estava com o cabelo cortado. Você, mesmo naquela cama estava linda, maquiada e com um turbante ótimo que favorecia seu rosto. Suas unhas impecáveis, como sempre.
Queria poder te contar mais fofocas...